quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Até o tempo conspira...

Márcia

Amanhã seria um dia de vê-la sorrir, mas o tempo que não tem compromisso com nada e com ninguém veio e tirou de nós a tua presença e luz.

A chuva que hoje molha as pedras por onde ando, se confundem com as lágrimas que rolam pela minha face e já nem desvio dos vultos a minha frente, e pouco me importo em quem esbarro o ombro ou a mão.

Recordo de suas mãos me apertando um pouco mais forte quando eventualmente perdias o equilíbrio por causa de um desnível ou obstáculo a sua frente. Lhe segurava com mais força, quando então levantavas o rosto e sorria para mim como se estivesse se divertindo, porém eu sabia o que na verdade estava acontecendo. Fazia de conta que era meio(?) maluco e simplesmente parava no meio de tudo e de todos e lhe dava um abraço até recuperares o equilíbrio.

Adoravas passear pela Galeria Menescal em Copacabana e em tantas outras mini galerias para encontrar algo que somente você sabia que existia. Objetos singelos porém únicos, e a cada vitrine seus olhos brilhavam, brilhavam, brilhavam, brilhavam... Brilhavam mais que qualquer diamante, por maior e mesmo que o melhor ourives o lapidasse em suas possíveis multi facetadas opções.

Mas em dado momento suas pernas não obedeciam a sua vontade e não conseguias tampouco levantar seu singelo pé para entrar no táxi.

Recostavas seu rosto junto ao meu ombro e com o olhar marejado pedias desculpas, e eu lhe dizia que amanhã seria um outro dia, e quem sabe poderíamos ir até a URCA e levar o Buck junto e que telefonaria para Sr Paulo do Táxi TeleUrca, e ela novamente voltava a sorrir e seus olhos brilhavam intensamente denunciando sua alegria e escondendo sua tristeza

O modo que encontrei para te homenagear é pedir uma missa na igreja que tanto gostavas.

Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto falta de ti e me culpo de não ter enfrentado os obstáculos que foram impostos para que eu não pudesse estar ao seu lado nos momentos em que mais você precisava...

Pensei que fosse fácil esquecer este seu jeito frágil e escondido por detrás de uma aparente força e que dava tanto a todos sem esperar nada em troca, pelo simples prazer de ver o sorriso no outro.

Sinto muita saudade do que tivemos e vivemos, hoje tenho um nó na garganta e o tempo que me resta pela frente extremamente só...

Não posso estar contigo, mas trocaria de lugar onde estivesses, para que pudesses iluminar a vida das pessoas que tanto precisam da alegria e sorriso que só você tinha; Porque aqui farias a felicidade e alegria de muitos e eu nem a minha posso
mais fazer. Como não estás aqui, sinto falta de mim mesmo e do meu corpo junto ao teu e por vezes sinto que até meu coração tosco quer saltar fora do meu peito se recusando a permancer em um corpo que já não lhe quer mais.


** O valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. **
( Fernando Pessoa )

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Paulo G Muller

http://flavors.me/pgmuller